13 de nov. de 2009

Soneto do Scotch

-João Mammana

A cevada, o mais nobre cereal
colhido no hemisfério boreal,
pra atingir o seu auge enquanto grão,
precisa ser em bicas mergulhado,
ali dentro ficar abandonado
pra dois dias depois ser retirado,
meticulosamente bem secado
e irreversivelmente triturado.

A farinha que sai da moeção
deve ser colocada em infusão
que é pra se transformar, na água posto,
num líquido bem bonito de rosto
que os especialistas chamam de 'mosto'.

Em grandes continentes específicos,
todo o mosto deve ser derramado
pra lá dentro escorrer entre orifícios,
deixando todo o sólido pra trás,
que mais tarde vai ser aproveitado
pra fazer ração pro gado voraz.

Nessa gloriosa transformação,
junta-se o lêvedo à bela mistura
a setenta graus de temperatura.
Com o efeito da fermentação,
o açúcar sofre quebras de estrutura
que resultam na troca de função.

Através de longos tubos de ferro,
a bebida alcóolica corre em frente
rumo ao alambique de fogo quente
pra então ser destilada finalmente.

Terminada essa última etapa,
o que até aqui resistiu bravamente
é estocado doce e zelosamente
em barris de madeira de carvalho
e lá fica uma dúzia de anos
ganhando experiência, forma e força.

Então de lá é tirado, engarrafado,
rotulado, encaixotado, enviado,
recebido, guardado em prateleiras
e, em pouco tempo, está pra ser aberto
e consumido num brinde aos amigos.

E você, meu amigo, seja esperto,
respeite anos de um processo hermético:
peço-lhe que jamais faça a besteira
de sujar bom uísque com energético.

Um comentário:

Ian disse...

fanfarrão! gostei da sua habilidade com rimas... que eu provavelmente nunnca vou ter