8 de nov. de 2009

Depois eu faço

- João Mammana

Quando eu morrer,
não quero que chorem
e quero que guardem as velas
pra quando a força cair.
Não precisam acabar com elas
só pra eu saber pra onde ir.

Quando eu morrer,
não quero que me enterrem.
Pelo contrário,
quero ser empalhado
e ter meu corpo levado
pra onde, em vida, não pude ir.

Arranquem-me as as tripas,
o cérebro e o pulmão,
mas peço por meio deste
que me deixem, intacto, o coração.
Deixem-no guardado em meu peito
pra que um dia ele bata em respeito
dos tiros da revolução,
já que esta, enquanto vivo,
não periga de explodir, não.

Joguem meu corpo no ralo da pia,
façam dele o que eu jamais faria
pois só de pensar, já entro em fadiga.

Depois de tudo,
e só então,
atirem na lixeira o coração
e mandem minha carcaça
praqueles jantares sem-graça
que, em vida, não tenho saco pra ir.

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