22 de fev. de 2010

Saudade

-João Mammana

Mente quem diz que video games destroem o cérebro e são um desperdício de tempo.
Eu realmente me emociono ouvindo a trilha sonora de Ocarina of Time.

18 de fev. de 2010

Stalker, parte um

-João Mammana

Ele nunca desistiu das fitas cassete. São Paulo, 3:42 AM, 22/7/04 e ele estava sentado ao pc ouvindo sua mixtape favorita no som do quarto. Navegava pelo Myspace que, por ser uma rede recente, não era muito difundida. Tentou o Orkut, mas os bugs eram irritantes demais. Ouvia Naked City porque assitiu a Funny Games do austríaco Michael Haneke e achou a trilha sonora ótima, apesar de bizarra. Há alguns anos seus amigos vinham tentando dissuadí-lo de gravar CDs e LPs em cassetes, mas ele não podia evitar. Achava mixtapes as coisas mais legais do mundo. Não achava moderninhas como os CDs e nem antigas e pseudo-cool como os LPs. Mesmo detestando as tendências oitentistas, gostava de fitas. Agora estava ouvindo Orchid. Música agressiva o agradava, apesar de seu visual e comportamento não serem agressivos. Tinha o cabelo curto, tinha um gosto grande por camisas xadrez, calças jeans e tênis. Também tinha uma grande coleção de hoodies. Sobre a mesa do computador, fitas cassetes espalhadas, uma caneca vazia, anotações da escola, livros e HQs que tinha que ler ou devolver. Havia acabado de ler Catcher in the Rye de J. D. Salinger onze minutos antes. Ganhara de seu pai, que era americano e havia lido escondido na adolescência, pois o livro era considerado subversivo. Apesar de ter não ter achado nada subversivo para os padrões atuais, concordou que àquela época devia ser uma bomba e deixou-se viajar no tempo para os anos em que os malefícios do cigarro eram praticamente desconhecidos e garotos e garotas não estudavam juntos. Garotas. Ao lado da pilha de livros e HQs, estava a foto de Anabel, sua ex-namorada que deixou o estado e supostamente não suportou a solidão, o que o garoto achava perfeitamente normal, apesar de duvidar que aquele fosse o real motivo. Nunca confiou plenamente na garota, mas não seria agora que se preocuparia com isso. Cobriu a foto com Catcher in the Rye e voltou os olhos para a tela do computador. Agora ouvia Radiohead. Música calma era tão boa quanto a agressiva e combinava com seu visual. Mas com o seu comportamento, só combinava o silêncio. Não falava muito e compensava pensando ensimesmado no quarto. Tinha amigos, gostava deles, mas preferia ouví-los conversando sobre qualquer coisa do que participar das conversas. Andavam de skate, jogavam video game e saíam de noite para beber aos fins de semana. Ficou indo de perfis em perfis de Myspace fazendo download de músicas das bandas que divulgavam seu trabalho na rede. Agora estava ouvindo Fugazi. Começou a vasculhar o perfil de um quinteto chamado Alexisonfire quando leu um comentário de uma garota chamada Eloísa elogiando a banda. Eloísa. Nunca havia visto muitos brasileiros no Myspace, quanto mais uma garota bonita. Clicou no perfil de Eloísa e ia começar a vasculhar quando seu pai entrou furioso no quarto berrando para o garoto ir dormir, pois tinha aula no dia seguinte. Assustado, desligou o computador e foi dormir imediatamente.